Uma das mais úteis e construtivas indicações de S. Freud é aquela em que ele diz que o homem feliz é o que ama e trabalha.
A frase de Freud continua relevante nos dias de hoje, pois nos estimula a reciclar o cultivo de relacionamentos saudáveis e de encontrar ocupações que nos proporcionem propósito e significado.
O professor Henrique José de Souza, criador da Eubiose, promove mais reflexões com a ideia: “A humanidade é infeliz por ter feito do trabalho um sacrifício e do amor um pecado”.
Portanto, na busca de uma perspectiva de equipar a vida com mais felicidade, é desejável não se sacrificar no desempenho profissional bem como amar com a liberdade de não pecar.
É essencial que nos dediquemos a essa combinação bivalente de nossas potencialidades e talentos vitais: conciliar o bem-estar humano e o bem-estar profissional.
Estaremos cada vez mais humanos à medida que aprimorarmos nossa capacidade afetiva e promovermos os melhores entrosamentos possíveis com companheiros, parceiros, parentes, amigos e colegas.
Comentamos muitas vezes, em crônicas anteriores, e iremos ainda muitas vezes, nas próximas, debater esses fatores humanos subjetivos de afetividade e sexualidade.
Hoje, focalizaremos mais o ser profissional.
O exercício de bem funcionar como profissional implica essencialmente dois aspectos: a compreensão teórica das expectativas e a atuação prática das tentativas.
Contrabalançar expectativas e tentativas é uma arte complexa, delicada e resiliente.
A pessoa que trabalha tem que expectar, precisa dos desejos, dos sonhos e deve atuar, tentar sem desistir. Em outras palavras, a pessoa precisa estar disponível para fazer muitos, vários, inúmeros contatos para conseguir raríssimos, pouquíssimos contratos…
É fundamental insistir: disposição e esforços (sem extrapolar para o sacrifício) para um contingente enorme de contatos para atingir poucas satisfações, em s contratos. Exemplar e simbolicamente: muitos, muitíssimos contatos para poucos, raríssimos contratos.
Costumo tomar um café, logo após o almoço, em uma padaria. É hora da troca de turmas de funcionários.
Recentemente, outro freguês que também frequenta o local disse para os que saíam: “Bom descanso”. E cumprimentou os que chegavam: “Bom trabalho”.
Eu fiquei matutando: então, realmente, há um certo consenso de que trabalho e descanso são antônimos! É fácil, então, confundir qualquer esforço extra oferecido pelo funcionário – dez, quinze minutos a mais de dedicação – com sacrifício! Ou mesmo com badalação…
Em diferentes momentos da História, os ciclos de desenvolvimento e restrição reiteraram as fruições e as decepções. Os temores do desemprego seguem rondando os trabalhadores. E os medos de perder os investimentos ameaçando os empregadores.
Nas contas do Fórum Econômico Mundial, até o início da próxima década (2031), as pessoas vão trabalhar mais com máquinas ou haverá tarefas totalmente automatizadas. Isso prevê um futuro de sérias limitações. Cerca de 92 milhões de empregos deixarão de existir. Porém, o próprio F E M aponta que, por outro lado, 170 milhões de vagas – quase o dobro – serão criadas…
O exercício profissional útil, interessante, construtivo, mais satisfatório e menos sacrificado, implica efetivamente em treinos democráticos.
Ou seja, nas equivalências horizontais dos que convivem na mesma faixa promocional ou nas hierarquias verticais dos que estão em degraus distintos, quanto maiores os ensaios de democracia, melhor. Isso favorece o espírito de equipe e a responsabilização cotizada e proporcional.
Assim, todos encaram as frustrações de continuar a rotina persistente e entediante dos numerosos contatos e as gratificações dos eventuais contratos.
Seria também muito produtivo e satisfatório se as empresas e funcionários abrissem o debate da PLR (Participação no Lucros e Resultados).
No Brasil, a PLR é um direito previsto na Constituição Federal e regulamentado pela Lei nº 10.101/2000. Porém, infelizmente, é assunto postergado ou já assemelhado a um tabu.
A PLR poderia ser bem usada. Trata-se de ferramenta muito estratégica para empresários e funcionários, atraindo e mantendo talentos, motivando todos, horizontal e verticalmente, reforçando o espírito de equipe e melhorando o clima organizacional.
Quando vemos uma pessoa comemorar sua aposentadoria, há um clima de premiação em que se conclui que ela merece o descanso: “trabalhou tanto – coitada! – precisa sossegar”… Perigo!
Não há provas científicas definitivas sobre a aposentadoria favorecer a morte, mas se trata de um período da vida que exige cuidados especiais com a saúde física, mental, sexual e social.
Portanto, parece que vale muito mais a pena aprender a trabalhar sem o espírito de sacrificado e continuar atuando sempre, na mesma ou em outra profissão.
Joaquim Z. Motta é psiquiatra, sexólogo e escritor.