“Dona Ruth, qual é o segredo da senhora chegar aos 100 anos tão bem e lúcida”? Essa foi uma das perguntas que fiz para uma moradora do Lar dos Velhinhos de Campinas que fará 100 anos neste sábado, 24 de fevereiro. Pela primeira vez, ela estava participando de uma chamada de vídeo e gostou da novidade tecnológica. Mas, antes de responder ao meu questionamento, fez questão de ressaltar: “Olha eu não sou tão velha para você me chamar de ‘dona’ ou senhora.”
A centenária Ruth Cunha nasceu em Jaborandi, interior de São Paulo. Quando era adolescente sua família se mudou para Campinas, para realizar o sonho do pai de viver na cidade grande.
Ela nunca se casou e sempre cuidou dos pais. “Minha mãe e meu pai eram bem rígidos e ciumentos com os rapazes que tentavam se aproximar de mim. Tive muitos pretendentes. Todo mundo me dizia que eu era bem bonita, mas eu sempre valorizei a minha liberdade. Até hoje gosto de me sentir livre. Viajei bastante e fiz bons amigos ao longo dos meus 100 anos, mas não queria estar presa a ninguém”, conta.
Sem parentes próximos, aos 92 anos ela foi morar no Lar do Velhinhos e há 8 anos encanta a todos com a sua lucidez, alegria, calma e bom humor.
Sempre questionam sobre o segredo de sua longevidade, mas ela não tem uma única resposta. “Eu tenho uma vida simples, me alimento bem, mas também adoro comer um docinho, durmo melhor no silêncio, não gosto de muito barulho. Também faço caminhadas, agora de andador. Aqui no Lar dos Velhinhos temos muitas atividades para fazer diariamente”, conta.
Ela sempre gostou de ler e escrever. “Dizem que minha letra parece de professora”, conta.
Ruth acredita que tem uma vida feliz e fez boas escolhas no trajeto, não se arrepende de nada. Ela deixa claro que no seu caminhar escolheu a leveza como companheira e isso a deixa com o coração tranquilo.
No Lar dos Velhinhos de Campinas, que fará 120 anos em 25 de julho, ela é a única centenária dos 95 moradores atuais.
Para celebrar o centenário de Ruth, perguntei sua música preferida e ela indicou Fascinação, na voz de Carlos Galhardo. Para ela, viver é também se deslumbrar:
Saiba mais sobre o Lar dos Velhinhos de Campinas
Fundado em 1904, a instituição nasceu com o nome de Asylo dos Inválidos e quando foi criada acolhia qualquer pessoa em condição de rua, sem distinção de idade, mas com o ar dos anos a maior parcela dos atendidos correspondia ao público idoso. Isso fez com que a Instituição se especializasse nesse tipo de acolhimento, e em 1972, reformulasse seu nome para Lar dos Velhinhos de Campinas.
O Lar do Velhinhos é uma Organização da Sociedade Civil, sem fins lucrativos e istrada por uma diretoria voluntária, além de contar com uma equipe multidisciplinar focada em promover a saúde e assistência social ao idoso carente.
Quem tiver interesse é possível ser voluntário nas mais diferentes áreas, como por exemplo: artesanato, bazar, biblioteca, jardinagem, informática, recreação.
Se tiver interesse em saber mais sobre o local e como pode ajudar, agende uma visita pelo telefone (19) 3743-4300.
Kátia Camargo é jornalista e escritora
