Já parou para pensar como é um empreendedor no imaginário coletivo? Como ele é representado? As imagens que vemos tem grande importância na formação do que “imaginamos” como empreendedor. Se você for em um buscador de imagens e digitar “empreendedores”, as primeiras 100 imagens são principalmente de homens brancos de terno. Isso em um país onde quase metade dos empreendedores são mulheres negras.
Dos 90 milhões de trabalhadores no Brasil, 45 milhões são informais e quase metade deles istra microempresas, mas não se veem como empreendedores. Atualmente no Brasil, 99% das empresas são micro e pequenas empresas, 70% são informais e quase metade delas são istradas por mulheres e empreendedores negros. As microempresas contribuem com 27% do PIB e mesmo assim são invisíveis no ecossistema de negócios.
Esses números mostram a desigualdade que vivemos hoje. Os microempreendedores, formais e informais, são pessoas honestas, criativas e trabalhadoras, que em grande maioria começam seus negócios para gerar renda para suas famílias. Em muitos casos elas simplesmente não percebem que são empreendedoras e que existe um ecossistema pronto para apoiá-las.
Muitas vezes esse trabalho é feito por instituições independentes. A REAFRO, por exemplo, atua em 16 estados brasileiros e por meio de suas ações promove o desenvolvimento social e econômico de afroempreendedores e articula parcerias para programas de crédito. O Banco da Providência, atualmente chamado de Instituto da Providência, também é um bom exemplo de instituição. Através dos seus projetos, fomenta comunidades vulneráveis, potencializando e integrando a população economicamente ativa. A Aliança Empreendedora nos últimos 19 anos, por meio de projetos como o Tamo Junto – uma plataforma que oferece ao microempreendedor brasileiro cursos online, conteúdos, ferramentas de desenvolvimento e autoconhecimento -, apoiou 250 mil empreendedores, sendo 80% mulheres e 60% empreendedores negros.
A desigualdade de gênero também é uma realidade. Pesquisa da McKinsey demonstra que até US$ 12 a US$ 28 trilhões poderiam ser adicionados à economia global até 2025 se todos os países eliminassem a lacuna de gênero. Mulheres empreendedoras desempenham um papel crítico na criação de riqueza global.
Ainda há muito trabalho a ser feito. Hoje temos no Brasil cerca de 20 milhões de empreendedores e empreendedoras, e acredito que são a chave para a inclusão social e econômica.
Recentemente, Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Estudos Econômicos, fez uma projeção que mostrou que um aumento na qualificação, apoio e formalização de microempreendedores comunitários pode gerar um incremento de 8% no PIB, tirando 5 milhões de pessoas da pobreza em 4 anos. Esse é o poder do microempreendedorismo no Brasil e uma grande transformação pode vir deste ecossistema.
Juntos podemos dar força para o empreendedor brasileiro, que é diverso, composto não apenas homens brancos de terno. Mas negros, brancos, indígenas, mulheres e homens em comunidades e territórios, que usam sua criatividade para oferecer produtos e serviços que fazem parte de quem eles são, da sua cultura, dos seus talentos e da sua ancestralidade. Eles são essenciais para a prosperidade do nosso país.
Lina Maria Useche Kempf é Diretora executiva da Aliança Empreendedora. Em 2024 recebeu o prêmio The WE Empower Challenge, promovido pela ONU e Vital Voices.