A escalada de ataques de Donald Trump a universidades nos Estados Unidos, e por extensão a cientistas e pesquisadores, é um fato da maior gravidade para o planeta. Porque esses ataques impensáveis em plena terceira década do século 21 significam a recusa da ciência, do pensamento livre, da crítica ao status quo que tem promovido a aceleração das mudanças climáticas e outros impactos socioambientais de grande magnitude.
O atual titular na Casa Branca tem ameaçado as universidades de cortes gigantescos em contratos com o governo federal. Ou seja, Trump se utiliza da velha arma do dinheiro para intimidar a ciência livre. Os seus argumentos são de que muitas universidades estariam “exagerando” em seus programas de promoção da diversidade, entre outras razões absurdas.
Uma das únicas instituições universitárias norteamericanas que tem resistido a essas manifestações de barbárie é Harvard, que sistematicamente tem sido objeto de ações de diferentes instâncias do governo Trump. Harvard é acusada de promover antisemitismo e racismo, o que é outro grande absurdo.
A mais recente investida foi a da istração de Serviços Gerais (GSA), que solicitou a todas as agências federais que identificassem e rompessem os contratos mantidos com Harvard. As estimativas são de que os cortes podem chegar a US$ 3,2 bilhões, recursos que Trump ameaçou destinar a outras escolas, que naturalmente aceitassem a sua cruzada contra a diversidade e pelo negacionismo.
Na semana ada, a Secretaria de Segurança Interna já havia determinado a revogação da certificação do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio de Harvard. Com isso, estudantes estrangeiros não poderiam mais frequentar a mais famosa Universidade norteamericana e talvez do mundo.
O governo Trump foi imediatamente processado por Harvard por essa medida e uma juíza distrital chegou a bloquear temporariamente a ação governamental. Mas os ataques continuam ocorrendo em outras frentes e analistas temem que a médio prazo Harvard possa sofrer muito com essa escalada.
Ocorre que esses ataques não se limitam a instituições universitárias. Várias organizações científicas de enorme relevância estão sofrendo cortes radicais. Uma das instituições diretamente atingidas é o Instituto Goddard de Estudos Espaciais, vinculado à NASA.
O Instituto promove estudos da mais alta importância sobre as mudanças climáticas e outros impactos socioambientais. Por ele aram nomes como Jim Hansen, um dos pioneiros nas advertências sobre a emissão de gases que provocam as mudanças do clima.
A NASA, mundialmente conhecida, pode sofrer cortes de até 24% se as medidas do governo Trump forem totalmente efetivadas, com efeitos incalculáveis em termos dos serviços prestados pela agência. É tudo o que o enfrentamento das mudanças climáticas não precisava no momento em que o planeta está cada vez mais quente.
A NOAA, outra agência importante, por exemplo, divulgou recentemente o alerta de que a temporada de furacões nos Estados Unidos tende a ser acima da média em 2025. A temporada se estende entre 1 de junho e 30 de novembro.
Na realidade, as ações de Trump de cunho negacionista, em relação às mudanças climáticas, não estão ficando sem resposta.
Um conjunto de 16 estados, mais o Distrito de Columbia e um elenco de organizações ambientalistas entrou com processo contra o governo federal, pelos cortes no programa de estímulo aos veículos elétricos, que Trump quer substituir por carros a gasolina. Sempre os interesses dos grandes grupos dos combustíveis fósseis em primeiro lugar.
Harvard resiste, cientistas resistem, ambientalistas resistem. Mas o que ocorrido nos Estados Unidos é muito preocupante para o futuro do planeta como um todo, pelo exemplo que o governo norteamericano pode dar a outros governantes que comungam das mesmas ideias.
Então a mobilização deve ser global, da cidadania planetária, no sentido de garantir os avanços civilizatórios que a essa altura são inegociáveis. O que o mundo precisa é, justamente, de mais ciência, mais pesquisa, mais estímulo à inteligência e, sempre, liberdade de pensamento e expressão. São valores fundamentais, que devem ser defendidos a todo custo, para impedir que o mundo mergulhe nas trevas.