Ao chegarmos na metade do ano, um fenômeno comum emerge silencioso e quase inevitável: o cansaço mental que assola muitos de nós. Esse desgaste não é apenas físico, mas fundamentalmente psíquico, resultado das inúmeras cobranças sociais que moldam e pressionam nossa existência. Vamos refletir sobre os impactos sociais e emocionais que estamos sofrendo à luz da Filosofia e da Psicanálise?
Sob um olhar filosófico, essa sensação pode ser entendida como uma crise do ser diante das expectativas impostas pela sociedade, um confronto entre o desejo individual e o imperativo do coletivo.
Filósofos como Sartre e Heidegger nos lembram que o ser humano é condenado à liberdade, ou seja, somos responsáveis pelas escolhas que fazemos, mas também somos produto de um mundo que espera certas conformidades. Esse “ser-para-os-outros” que Sartre descreve revela a angústia de viver sob o olhar constante do outro, onde a autenticidade muitas vezes é sufocada pelo medo do julgamento social. Chegar à metade do ano intensifica essa sensação, pois o calendário, com suas metas e prazos, se torna um símbolo implacável do tempo que corre e das conquistas que deveriam ter sido realizadas.
Do ponto de vista psicanalítico, Freud e Lacan nos oferecem ferramentas para compreender a origem desse cansaço mental. A cobrança social atua como um superego severo, uma voz interna que constantemente exige perfeição, produtividade e conformidade. O sujeito, dividido entre seus desejos inconscientes e as normas sociais internalizadas, experimenta um conflito que gera ansiedade e fadiga psíquica. O “dever-ser” imposto socialmente cria uma tensão constante, que, ao se acumular durante meses, resulta em exaustão mental.
Além disso, o conceito lacaniano do “Outro” como instância do desejo e da lei explica por que as cobranças externas se tornam também um peso interno. O sujeito deseja ser reconhecido e aceito pelo Outro, mas esse reconhecimento vem acompanhado de regras e limitações que restringem sua liberdade e autenticidade. O meio do ano é, assim, um ponto de ruptura onde o sujeito pode sentir o peso dessa divisão e o desgaste da luta interna para corresponder a expectativas muitas vezes contraditórias.
A pressão para “dar conta” de tudo, no trabalho, na família, nos relacionamentos e nas realizações pessoais, reproduz uma dinâmica de autoexigência que intensifica o cansaço mental. Essa pressão se manifesta em sintomas diversos: insônia, ansiedade, sensação de inutilidade e até mesmo depressão. O corpo e a mente pedem pausa, mas a sociedade raramente oferece espaço para isso, perpetuando um ciclo de esgotamento.
Contudo, a metade do ano pode ser também um momento propício para a reflexão e a ressignificação dessas cobranças. É uma oportunidade para questionar os valores que orientam nossa vida e as normas que aceitamos internalizar.
A filosofia nos convida a buscar uma existência mais autêntica, enquanto a psicanálise aponta para a importância de ouvir as demandas do inconsciente, acolher nossos desejos e limites, e negociar com o superego para aliviar a pressão.
Em última análise, o cansaço mental na metade do ano é um sintoma da complexa relação entre o sujeito e a sociedade. Entendê-lo sob uma perspectiva filosófica e psicanalítica nos ajuda a enxergar que esse desgaste não é falha individual, mas efeito das estruturas e expectativas que nos atravessam.
Reconhecer isso pode ser o primeiro o para construir modos de vida mais comivos consigo mesmo e com o tempo que nos é dado.
Thiago Pontes Thiago Pontes é Filósofo, Psicanalista e Neurolinguísta (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial